Metodologia no ensino de sexualidade na adolescência
para o ensino médio -
O tema transversal e o livro didático.
Ediléia Ramona Corrêa de Souza de Carvalho
Marcia Aparecida Corrêa de Souza
RESUMO
O tema
sexualidade na adolescência, muitas vezes difícil de ser abordado por envolver
sentimentos, emoções e sensações relacionadas ao prazer e por este motivo, é
repleto de dúvidas, preconceitos e tabus. O adolescente tem na maioria das
vezes o professor como um conhecedor de todos os assuntos, inclusive a sexualidade.
Por esta razão, na maioria das vezes ficam mais a vontade de falar sobre este
assunto com o professor do que com os pais. Assim sendo pretende-se com esse
projeto conhecer as dificuldades encontradas pelos professores em tratar de
assuntos referentes à sexualidade para alunos na fase da adolescência. Para
isso será feito um levantamento nos livros didáticos da 1ª série do ensino
médio nas disciplinas de matemática, português, geografia, biologia e história.
O objetivo da pesquisa é, através da problemática levantada, se chegar a uma
discussão sobre metodologias adequadas para se trabalhar o assunto sexualidade
de forma interdisciplinar como tema transversal, já que esta é uma questão
proposta sugerida pelos PCN’s. Ao final pretende-se fazer uma discussão sobre
os pontos encontrados em cada disciplina sobre o tema como forma do professor
abordar o mesmo em sala de aula, independente da disciplina.
PALAVRA CHAVE:
Adolescência, sexualidade, temas transversais.
ABSTRACT
The theme of sexuality in adolescence,
often difficult to be addressed by involving feelings, emotions and sensations
related to pleasure and for this reason, it is full of doubts, prejudices and
taboos. The teen has mostly the teacher as a connoisseur of all subjects,
including sexuality. For this reason, most often feel more comfortable talking
about this with the teacher than with their parents. Therefore it is intended
with this project knowing the difficulties faced by teachers in dealing with
issues related to sexuality to students in adolescence. For this will be
a survey of textbooks in 1st grade of high school in math, Portuguese,
geography, biology and history. The goal of the research is through the
problems raised, reaching a discussion on appropriate methodologies for working
the issue of sexuality as an interdisciplinary cross-cutting issue, since this
is a question suggested by the NCP's proposal. At the end we intend to make an argument about
the points found in each discipline on the theme as a way of addressing teacher
in the same classroom, regardless of discipline.
KEY WORDS: Adolescence,
sexuality, cross-cutting themes.
INTRODUÇÃO
Segundo Becker
(2003, apud CIPRIANO; FARIAS 2007), sexualidade é um processo complexo que
envolve maturidade, decorrente a evolução do jovem, momento na qual é cheio de
conflitos e crises, descobertas responsáveis pela identidade do ser humano.
Para Araújo
(2008), os aspectos anatômicos e fisiológicos envolvem os órgãos sexuais, os
hormônios, os nervos e os centros cerebrais, biológico são responsáveis pela
parte de reprodução, os aspectos psicológicos envolvem auto-imagem,
auto-aceitação tanto no masculino quanto feminino, na qual interferindo no ego
e na afetividade ao ser humano.
A sexualidade é
algo que desperta curiosidade nos adolescente, devido a isso gerar mudanças
físicas, sociais e psicológicas, contudo é necessária a intervenção de
profissionais e familiares, para a orientação sexual com a finalidade de
direcionar o jovem a superar bloqueios, ultrapassar obstáculos e identificar-se
sexualmente.
Vitiello (1994)
refere que é muito grande o nível de desinformação exibido pelos adolescentes,
embora essa desinformação não seja o único motivo que leva à má utilização da
metodologia anticoncepcional, pois está também vinculado a fatores psicológicos
e sócio-culturais.
Segundo A Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o ensino médio é a “etapa final da
educação básica” (Art.36), o que ocorre para a construção de sua identidade,
onde passam a ter a característica do término, que significa assegurar aos
cidadãos a oportunidade de aprimorar os conhecimentos adquiridos no Ensino
Fundamental, consolidar o educando como pessoa, possibilitá-lo que prossiga em
seus estudos, prepará-lo basicamente para o trabalho e cidadania, dar a ele os
instrumentos necessários para continuar seus estudos, tendo em vista os
conhecimentos adquiridos dos “fundamentos científicos e tecnológicos dos
processos produtivos”, bem como a necessidade de informação ao adolescente dos
dias atuais.
Art. 1º A
educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar,
na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
culturais.
§ 1º Esta Lei
disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio
do ensino, em instituições próprias.
§ 2º A educação
escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
ARTIGO 35
III - o
aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
ARTIGO 36
II - adotará
metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos
estudantes.
No primeiro
momento, a sexualidade é abordada pelas relações familiares, assim sendo, cada
família adota seus princípios e valores que transmitiram aos seus.
Segundo o PCN, “O
Trabalho de Orientação Sexual na escola, é entendido como problematizar,
levantar questionamentos e ampliar o leque de conhecimentos e de opções para
que o aluno, ele próprio escolha seu caminho”. Partindo desse principio podemos
tomar como base o conhecimento que o aluno já possui, antes de dar inicio a
conversa sobre a sexualidade, a qual ainda em muitos casos é um tabu, a ser
quebrado. Outro ponto importante a ser considerado é a não invasão da
intimidade do aluno, limitarmos a falar sobre o que o mesmo quer saber e, não
somente o que nos preparamos neste determinado momento a falar, em cima do
planejamento feito, ou seja, se planejamos uma aula sobre determinado assunto
referente à sexualidade e, o aluno chega com outra questão também referente ao
tema, temos que estar preparados para responder o que ele mostra maior
interesse em saber, de forma pedagógica e não de um aconselhamento individual.
Assim sendo não
podemos deixar de lado o papel do professor que segundo o PCN, “deve reconhecer
como legítimo e lícito, por parte das crianças e dos jovens, a busca do prazer
e as curiosidades manifestadas acerca da sexualidade, uma vez que fazem parte
de seu processo de desenvolvimento”. Para tal, faz se necessário à preparação
deste profissional, para abordar o tema de forma clara e objetiva com
informações coerentes a dúvida dos alunos.
De acordo com os
PCNs, o tema transversal sexualidade deve impregnar toda a área educativa do
ensino fundamental e ser tratado por diversas áreas do conhecimento. Levando
isso em consideração o trabalho realizado objetivou analisar em livros
didáticos de Biologia, Português, Matemática, História e Geografia a freqüência
em que o assunto é citado, em textos teóricos ou em textos auxiliares. Partindo
do pressuposto que (de acordo com os PCNs, 1998) o assunto deve ser tratado
através de conteúdos transversalizados nas diferentes áreas do currículo ou
como extra programação.
MATERIAL E
MÉTODOS
Para se ter uma
noção de onde esta o grande problema em abordar o tema sexualidade nas séries
do ensino médio, houve a necessidade de uma pesquisa nos livros didáticos
adotados pelas escolas que oferecem o ensino médio no município de Rio
Brilhante – MS. A partir de então, foi elaborada uma tabela ao tema sexualidade
e educação, nas disciplinas trabalhadas, no caso da matemática, português,
geografia, biologia e história. Os conteúdos analisados do livro didático de
cada disciplina, em todos os capítulos, textos e exercícios, com as anotações
dos momentos que levam a o professor abordar o tema sexualidade, algumas vezes
de forma indireta outras de forma direta.
RESULTADO E
DISCUSSÃO
Os resultados
aqui apresentados foram levantados nos livros didáticos que estão descritos na
tabela 1.
Tabela 1: Número
de vezes que o tema sexualidade é abordado nos livros didáticos de Biologia,
Português, Matemática, História e Geografia, em cada uma das modalidades texto
teórico, texto auxiliar, atividades, sugestões de leitura e diálogos
interdisciplinares.
Conteúdos Analisados
|
Biologia
|
Português
|
Matemática
|
História
|
Geografia
|
Texto Teórico
|
2
|
1
|
-
|
-
|
3
|
Texto Auxiliar
|
1
|
2
|
1
|
-
|
-
|
Atividades
|
6
|
1
|
2
|
-
|
-
|
Sugestões de leitura
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Diálogos interdisciplinares
*
|
-
|
-
|
-
|
1
|
-
|
·
Aparece
apenas no livro de história.
Fonte:
MOREIRA, João Carlos; SENE, Eustáquio de. Geografia, Volume Único, 1ª Edição,
São Paulo, Editora Scipione, 2011. AMARAL, Emília; ANTÔNIO, Severino; FERREIRA,
Mauro; LEITE, Ricardo. Novas Palavras, 1ª série, 2ª Edição Renovada, São Paulo,
Editora FTP, 2005. BONJORNO, José Roberto; GIOVANNI, José Ruy. Matemática
Completa, 1ª Série, 2ª Edição, São Paulo, Editora FTP, 2005. BARBOSA, Elaine
Senise; JÚNIOR, Newton Nazaro; PÊRA, Sílvio Adegas. Panorama da História,
Volume I, 1ª Edição, Curitiba, Editora Positivo, 2005. AMABIS, José Mariano;
MARTHO, Gilberto Rodrigues. Biologia das células, Volume I, 2ª Edição, São
Paulo, Editora Moderna, 2004.
DISCUSSÃO
Como a maioria
dos professores não está preparada para trabalhar o tema sexualidade,
geralmente fica para o professor de Biologia, a difícil tarefa de falar sobre
ele.
A pesquisa nos
referidos livros didáticos dos quais os alunos tem mais contato conforme a
grade curricular, onde o professor tem mais contato com o aluno que está na
fase da adolescência e consequentemente, com a sexualidade a flor da pele.
Os livros
didáticos pesquisados são os adotados nas escolas que oferecem o ensino médio
no município de Rio Brilhante – MS.
O livro de
Geografia trata o tema sexualidade de forma indireta, apresentando dados de
Esperança de Vida e Mortalidade Infantil, População e Crescimento Populacional
e Demográfico, que permite ao professor um momento para abordar o tema, ficando
a critério do mesmo fazê-lo ou não.
No livro de
Português, no capítulo de Literatura em poesias de Camões, no Renascimento e
Poesia Lírica, onde o tema preferido desses escritores é a mulher, como objeto
do amor. Novamente ficando a critério de o professor abordá-lo ou não.
No livro
Matemática, onde na lógica não teria, aparece no capítulo que fala em Ideia de
Função, que usa Expectativa de Vida dos Brasileiros, fala sobre a transmissão
de bactérias através do beijo e em Progressão Geométrica
e Aritmética sobre AIDS. Como nos livros acima citados, dá só uma ideia para o
professor abordar o tema de acordo com seu interesse.
No livro de
História há um capítulo “Diálogos Interdisciplinares História +Biologia” que
aborda o tema sobre a saúde das mulheres romanas, se o professor desejar pode
fazer uma comparação daquela época com os dias atuais, levando o tema a
sexualidade.
No livro de
Biologia, como já era previsto, houve vários momentos em que o tema sexualidade
foi abordado, de forma direta e indiretamente. O texto que fala sobre
Crescimento e Reprodução, explica sobre a fecundação e suas formas (sexuada e
assexuada). O texto sobre Reprodução e Ciclos de Vida, dá uma explicação sobre
os órgãos reprodutores masculinos e femininos. Em textos complementares, fala
sobre Métodos Contraceptivos e DST’s, sobre esse assunto há também atividades,
que faz com que o aluno reflita sobre as questões que envolvem a sexualidade
humana, pede ao aluno que levante um questionamento com um grupo de pesquisa,
em saber se Sexo pode (ou deve) ser desvinculado de reprodução ou deve ter
sempre a finalidade reprodutiva? O questionamento é interessante e sugere que
seja feita uma entrevista com um grupo de pessoas de diferentes graus de
instrução. Uma parte interessante é quando fala sobre ciclo menstrual, com um
gráfico que mede a temperatura corporal e sugere que o aluno calcule os dias
férteis.
Como já era de
esperar no livro didático de Biologia há temas diretos sobre sexualidade e há
momentos que remete os professores a tratar do tema, vai depender do interesse
do professor a falar sobre o assunto, uma vez que os alunos nessa fase não
falam de outra coisa.
O ponto
importante a ser trabalhado no momento é a preparação de todos os professores
em todas as disciplinas a estarem comprometidos com a questão da sexualidade,
pois ainda existe muita resistência por parte dos mesmos para abordar a
questão. Muitas vezes é por total falta de interesse, uma vez, que não é da
área em que esta trabalhando com os alunos, outra é por falta de preparação do
professor para tratar de um tema tão polêmico e complexo.
Ainda temos em
nossas escolas, essa é a grande realidade, professores que não estão muito
interessados em transmitir conhecimentos aos alunos e sim cumprir sua carga
horária e seu conteúdo programático, pois é muito mais fácil do que abordar o
tema sexualidade, pois acreditam que o professor de Biologia está mais bem
preparado para falar sobre o assunto. Claro que não podemos rotular todos os
professores, pois temos também ótimos profissionais que estão muito empenhados
em transmitir todo o conhecimento possível e necessário a seus alunos e, fazem
isso com muita dedicação, infelizmente é a minoria que faz essa opção.
A grande questão
é que todos os envolvidos na educação, professores, coordenadores, diretos, pais
e alunos, entrem em um consenso do que é necessário ser trabalhado e discutido
no mundo atual, pois também não se pode jogar toda a responsabilidade para o
professor que muitas vezes, necessita do apoio dos demais envolvidos na
questão.
Como foi observado
na pesquisa, no livro de Biologia é claro aparece mais chances para tratar o
assunto sexualidade, porém se o professor de Geografia, História,
Português, Matemática e demais
disciplinas estiverem interesse o tema é atual e aparece de forma indireta em
todos os livros analisados e com certeza está na mídia, muitas vezes de forma
incorreta, o que dá ao professor uma obrigação em esclarecer as dúvidas
referentes ao tema da forma correta.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
AMABIS, José Mariano; MARTHO, Gilberto Rodrigues. Biologia
das células, Volume I, 2ª Edição, São Paulo, Editora Moderna, 2004.
AMARAL, Emília; ANTÔNIO, Severino; FERREIRA, Mauro; LEITE,
Ricardo. Novas Palavras, 1ª série, 2ª Edição Renovada, São Paulo, Editora FTP,
2005.
BARBOSA, Elaine Senise; JÚNIOR, Newton Nazaro; PÊRA, Sílvio
Adegas. Panorama da História, Volume I, 1ª Edição, Curitiba, Editora Positivo,
2005.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de
Saúde. Área de Saúde do Adolescente e do Jovem.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas
transversais. Brasília: MECSEF, 1998.
BECKER, Daniel. O que é adolescência. 13 ed. São Paulo:
Editora Brasiliense, 2003.
BONJORNO, José Roberto; GIOVANNI, José Ruy. Matemática
Completa, 1ª Série, 2ª Edição, São Paulo, Editora FTP, 2005.
MOREIRA, João Carlos; SENE, Eustáquio de. Geografia, Volume
Único, 1ª Edição, São Paulo, Editora Scipione, 2011.
VITIELLO, N. Sexualidade e reprodução na adolescência.
Revista Brasileira de Sexualidade Humana. Vol. 5, n° 1, São Paulo: Iglu Editora
1994.
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