A criança no mundo da Literatura Infantil
Pedagoga: Eclair de Oliveira Silva Santos
Resumo:
O desenvolvimento no
mundo mágico da criança é uma busca de soluções, no plano da fantasia, com a
introdução de elementos mágicos. A restauração da ordem acontece no desfecho da
narrativa, quando há uma volta ao real. Valendo-se desta estrutura, os autores,
de um lado, demonstram que aceitam o potencial imaginativo infantil e, de
outro, transmitir à criança a ideia de que ela não pode viver indefinidamente
no mundo da fantasia, sendo necessário assumir o real, no momento certo".
AGUIAR, Vera Teixeira de. Era uma vez (contos de Grimm). Porto Alegre,
Kuarup.1990.
Palavras chave:
criança-aprendizagem-lúdico
Já Nelly Novaes Coelho
diz, que os contos de fadas são narrativas que giram em tomo de uma
problemática espiritual, ética e existencial, 1igada à realização interior do indivíduo,
basicamente por intermédio do amor. Daí se explica suas aventuras terem como
motivo central o encontro, a união do cavaleiro com a amada (princesa ou
plebéia), após vencer grandes obstáculos proporcionados pela maldade de alguém.
Plenos de significados,
com estrutura simples, histórias claras e personagens bem definidos em suas
características pessoais, os contos de fadas atingem a mente das crianças,
entretendo-as e estimulando sua imaginação, como nenhum outro tipo de
literatura talvez seja capaz de fazer, assim contribui para a formação e até
para a transformação da personalidade desses pequenos leitores.
Sugerindo soluções
simples, os contos, já que, referem-se aos problemas interiores, promovem o
desenvolvimento de recursos internos e criam soluções para tais dificuldades a
serem enfrentadas no decorrer do seu crescimento. É o que afirma Bruno
Bettelheim:
"Enquanto diverte
a criança, o conto de fadas a esclarece sobre si mesma, e favorece o
desenvolvimento de sua personalidade. Oferece significado em tantos níveis
diferentes, e enriquece a existência da criança de tantos modos que nenhum
livro pode fazer justiça à multidão e diversidade de contribuições que esses
contos dão à vida da criança". (BETTELHEIM, 2004, p-20).
Bruno apenas diz que,
num conto de fadas, os processos internos são externalizados e tomam-se
compreensíveis enquanto representados pejas figuras da história e seus
incidentes.
Assim, a suprema
importância dos contos de fadas para as crianças em crescimento, reside em algo
mais do que ensinamentos sobre as formas corretas de se comportar, eles são
terapêuticos, porque o paciente encontra sua própria solução através da
contemplação do que a "estória" parece implicar acerca de seus
conflitos internos neste momento da vida. Tomando característica marcante dessa
área, o poder de lidar com conteúdos da sabedoria popular e conteúdos
essenciais da condição humana, por isso, eles vivem até hoje e continuam
envolvidos no mundo maravilhoso, universo que detona a fantasia, partindo
sempre de uma situação real e concreta, sempre lidando com emoções que qualquer
criança já viveu.
As Origens dos
Contos de Fadas
Desde os primórdios, a
literatura infantil surge como uma forma literária menor, apenas expressando um
ato de linguagem ou representação simbólica de alguns fatos, os quais, nem
sempre eram reais. Como se sabe, a literatura infantil contém em seu abrangente
conteúdo vários tipos de textos representativos como é o caso das fábulas, o
apólogo, a lenda, o conto maravilhoso, os contos de fadas e etc. Então, vista a
necessidade de escolher diante de tanta oferta em literatura a mais criativa e
eficaz na alfabetização, a indicada vem a ser os contos de fadas, os quais,
tratam de problemas humanos universais como, por exemplo, a solidão e a
necessidade de enfrentar a vida por si só, mas de uma maneira simbólica.
Em sua origem, os
contos de fadas nada mais eram do que relatos de fatos da vida dos camponeses,
recheados de conflitos, aventuras e pornografias sendo assim, pouco indicado a
ser contado para as crianças. Esses relatos apenas serviam como entretenimento;
anos mais tarde com a descoberta das fadas, que eram idealização de uma mulher
perfeita, linda e poderosa, a qual era dotada com poderes sobrenaturais, vê-se
a necessidade de utilizar tais estórias alienadas também à educação, já que as
crianças gostavam muito desses contos e a fantasia inserida neles, estava
ajudando a formar a personalidade dessas pequenas pessoas.
O reconhecimento da
edição dos conto de fadas, como conhecemos hoje, surge na França no fim do
século XVII sob iniciativa de Charles Perrault (1628 - ] 703). Ao contrário do
que se possa ser pensado, Perrault não criou as narrativas de seus contos, mas
as editou para que estas se adequassem à audiência da corte do rei Luiz XIV (J
638 - I 71 5). Foram às narrativas folclóricas contadas pelos camponeses,
governantas e serventes que forneceram a matéria - prima para estes contos. Apesar
do distanciamento da camada popular e do desprezo pela sua cultura, a classe
nobre só conhecia tais narrativas devido ao inevitável contato por meio do
comércio ou pelas presenças das governantas e outros serviçais em suas
residências. Após coletar tais narrativas, Charles Perrault eliminou o quanto
pôde as passagens obscenas ou repugnantes que continham incesto, canibalismo e
sexo grupal para manter o seu apelo literário junto aos salões letrados
parisienses.
Já no Brasil, a
adaptação do modelo europeu que chegava, abrangia todo tipo de 1iteratura até
então usada, sendo assim também apropriada para o projeto educativo e
ideológico que via no texto infantil (principalmente os contos de fadas) e na
escola aliados indispensáveis para formação de cidadãos. Essa formação, que
utilizava tais textos aconselhava em suas páginas principalmente o patriotismo,
o amor e respeito à família e aos mais velhos, a dedicação aos mestres e à
escola, a piedade pelos pobres e fracos.
Neste clima de
valorização da instrução e da escola, simultaneamente a uma produção literária
variada, inicia-se um período de preocupação generalizada, devido à carência de
material adequado à leitura para crianças brasileiras, já que, apenas era o
começo da utilização dos contos, e histórias na escola, é o que documenta
Silvio Romero, reclamando a precariedade das condições em sua alfabetização:
"Ainda alcancei o
tempo em que nas aulas de primeiras letras aprendia-se a ler em velhos autos,
velhas sentenças fornecidas pelos cartórios dos escrivães forenses. Histórias
detestáveis e enfadonhas em suas impertinentes banalidades eram-nos
administradas nestes poeirentes cartapácios. Eram como clavas a nos esmager o
senso estético, a embrutecer o raciocínio e a estragar o caráter.”
ROMERO, Silvio. Rio de Janeiro,
Lalmmert, 1885.
Nestas lamentações de
ausências de material de leitura e de livros para infância brasileira, fica
clara a concepção, bastante comum na época, da importância do hábito de ler
para a formação do cidadão, formação que, a curto, médio e longo prazo, era o
papel que se esperava do sistema escolar e da então utilização dos contos e
histórias infantis.
A partir daí, dentro
desse espírito de mudanças surgiram vários programas de nacionalização, os
quais aderem à temática urbana, tendo crianças como personagens centrais que,
através de variadas situações e aventuras iam desenvolvendo o sentimento de
família, noções de obediência, prática das virtudes civis, sendo formadas
crianças moldadas e pouco críticas, cuja presença nos livros parece cumprir a
função de contagiar todos com iguais virtudes e sentimentos.
Teve grande destaque em
regenerar esse conceito de molde para as crianças, Olavo Bilac ou Tales de
Andrade na literatura infantil, fazendo a inversão de valores ideológicos, com
isso assume um compromisso com a modernidade centralizando sua preocupação em
valores menos tradicionais e mais liberais.
Simbologia
Uma obra é clássica e
referência em qualquer época quando desperta as principais emoções humanas. O
que os pequenos mais temem na infância é a separação dos pais; e esse drama
existencial aparece logo no começo de muitas histórias consideradas referências
na literatura. Para Bettelheim, a agressividade e o descontentamento com
irmãos, mães e pais são vivenciados na fantasia dos contos: o medo da rejeição
é trabalhando em João e Maria, a rivalidade entre irmãos em Cinderela e a
separação entre as crianças e os pais em Rapunzel e O Patinho Feio.
A leitura dos contos de
fadas no passado tinha mais um propósito muito claro: apontar padrões sociais
para as crianças. O objetivo das moças ingênuas era encontrar um príncipe, como
mostrado em A Bela
Adormecida e Cinderela. Em A Polegarzinha , de
Andersen, a recompensa final da protagonista, Dedolina, também era o casamento.
Já as garotas desobedientes, como Chapeuzinho Vermelho, deparavam-se com
situações dramáticas, como enfrentar o Lobo Mau. Essa história tinha forte
caráter moral na sociedade rural do século XII: camponesas não deviam andar
sozinhas. "Isso mostra como os contos serviam. para instruir mais que
divertir".
Histórias de reis e
rainhas e de moçoilas à espera de um príncipe fazem sentido ainda hoje.
"Os contos são patrimônio da humanidade. Eles foram escritos em outra
época e a criança consegue compreender isso. Clássicos são clássicos porque se
perpetuam, e as obras infantis devem ser respeitadas como a literatura para
adultos", diz Kátia Canton. Ela explica, no entanto, que as histórias
mudam de acordo com a cultura e a época. Canibalismo e incesto, por exemplo,
foram retirados de contos antigos. Na versão original de Chapeuzinho Vermelho,
o lobo devora a Vovó e a própria Chapeuzinho Vermelho, e o Caçador não existem.
Especialistas afirmam
que a tendência de retirar o mal, o medo e o castigo das narrativas são forte
atualmente. "As mudanças de enredo apaziguam as emoções que precisam ser
vividas. Não é saudável evitar que as crianças enfrentem os conflitos".
Assim, é possível usar e abusar de filmes que recontam A Bela e a Fera e O
Patinho Feio, por exemplo, mas é preciso apresentar primeiro as obras que mais
se aproximam dos originais.
O Maravilhoso sempre
foi e continua sendo um dos elementos mais importantes na literatura destinada
às crianças. Através do prazer ou das emoções que as estórias lhes
proporcionam, o simbolismo que está implícito nas tramas e personagens via agir
em seu inconsciente, atuando pouco a pouco para ajudar a resolver os conflitos
interiores normais nessa fase da vida, conseqüentemente, surge à necessidade da
criança defender sua vontade e sua independência em relação ao poder dos pais
ou à rivalidade com os irmãos ou amigos.
É nesse sentido que a
Literatura infantil e, principalmente, os contos de fadas podem ser decisivos
para a formação da criança em relação a si mesma e ao mundo à sua volta. O
maniqueísmo que divide as personagens em boas e más, belas e feias, poderosas
ou fracas, etc., facilita a criança à compreensão de certos valores básico da
conduta humana ou convívio social. Tal dicotomia se transmitida através de uma
linguagem simbólica, e durante a infância, não será prejudicial à formação de
sua consciência ética. O que as crianças encontram nos contos de fadas são, na
verdade, categorias de valor que são perenes. O que muda é apenas o conteúdo
rotulado de "bom" ou "mau", "certo" ou
"errado".
Lembra a Psicanálise,
que a criança é levada a se identificar com o herói bom e belo, não devido à
sua bondade ou beleza, mas por sentir nele a própria personificação de seus
problemas infantis: seu inconsciente desejo de bondade e beleza e,
principalmente, sua necessidade de segurança e proteção. Pode assim superar o
medo que a inibe e enfrentar os perigos e ameaças que sente à sua volta,
podendo alcançar gradativamente o equilíbrio adulto.
Logo, a área do
Maravilhoso dos contos de fadas tem linguagem metafórica que se comunica
facilmente com o pensamento mágico, natural das crianças, bem explica Vera
Teixeira de Aguiar:
"Os contos de
fadas mantêm uma estrutura fixa. Partem de um problema vinculado à realidade
(como estado de penúria, carência afetiva, conflito entre mãe e filho), que
desequilibra a tranqüilidade inicial. O desenvolvimento é uma busca de
soluções, no plano da fantasia, com a introdução de elementos mágicos (fadas,
bruxas, anões, duendes, gigantes etc.). A restauração da ordem acontece no
desfecho da narrativa, quando há uma volta ao real. Valendo-se desta estrutura,
os autores, de um lado, demonstram que aceitam o potencial imaginativo infantil
e, de outro, transmitem à criança a idéia de que ela não pode viver
indefinidamente no mundo da fantasia, sendo necessário assumir o real, no
momento certo. (Apud FANNY, 1994, p. 120 )
Assim, explícita e
implicitamente a simbologia retida dentro dos contos de fadas procede de
maneira consoante, ao caminho pejo qual uma criança pensa e experimenta,
podendo servir como consolo ou simbolizar um mundo apresentado igualmente de
acordo com o seu.
A criança na fase
pré-escolar e a importância das histórias contadas.
Durante os primeiros
anos de vida da criança, são construídas e desenvolvidas maneiras particulares
de ser e esquemas de relações com o mundo e com as pessoas. Elas vão
construindo suas matrizes de relações a partir de sua interação com o meio: o
seu comportamento emocional, individualização do próprio corpo, formação da
consciência de si, são processos paralelos e complementares do desenvolvimento
da criança (em seus primeiros anos) e é nesta fase que prevalecem os critérios
afetivos sobre os lógicos e objetivos.
De acordo com Piaget,
as crianças adquirem valores morais não só por internalizá-los ou observá-los
de fora, mas por construí-los interiormente através da interação com o meio
ambiente. Nesta fase, ouvir histórias (principalmente os contos), entre outras
atividades, é possibilidade real de desenvolvimento e aprendizagem.
A literatura infantil exercem
um grande fascínio nas crianças, são caminhos de descoberta e compreensão do
mundo. Segundo Bettelheim dentro do texto: "O conto de fadas procede de
uma maneira consoante ao caminho pelo qual uma criança pensa e experimenta o
mundo; por esta razão os contos de fadas são tão convincentes para elas".
Bettelheim ainda
assinala que as crianças, através da utilização das,histórias contadas aprendem
sobre problemas interiores dos seres humanos e sobre suas soluções e também é
através deles que a herança cultural é comunicada às crianças, tendo uma grande
contribuição para sua educação moral.
Já Aguiar, coloca que
os contos infantis:
"É uma
possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, das dificuldades, dos
impasses, das soluções, que todos atravessamos e vivemos, de um jeito ou de
outro, através de problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não),
resolvidos (ou não) pelos personagens de cada história (cada um a seu modo...).
E assim consegue esclarecer melhor os nossos problemas ou encontrar um caminho
possível para a resolução deles...".
Sabe-se que à sociedade
dita suas normas e o preço que a pessoa portadora de deficiência paga nesse
mundo chamado "moderno", é o de normalizar-se. Ou seja, aproximar-se
do pré-estabelecido, do normal, da perfeição, do saudável, do conhecido. Só é
possível à integração quando as diferenças são neutralizadas ao máximo, e o
indivíduo se aproxima do usual, das normas aceitas pela sociedade.
Historicamente, o
estigma em relação à deformidade física aparece em citações na Bíblia, em
Platão, Aristóteles e outros. Em decorrência dele, vê-se as atitudes de
preconceito a partir das significações afetivas, emocionais, intelectuais e
sociais que o grupo atribui à determinada deficiência. Na história em questão,
estas atitudes são traduzi das pelo abandono e segregação. Vê-se ainda na
história atitudes de ridicularização da pessoa com deficiência, quando
Quasimodo é colocado como bobo da corte, sendo exposto e humilhado.
Nesta história, a
deformação e a desfiguração do personagem não permitiram um final feliz e só
com a morte do Corcunda foi possível um final dentro das normas aceitáveis,
sendo transformado então em mito.
Assim, contar histórias
a uma criança tem que se tornar uma atividade bastante corriqueira, nas mais
diversas culturas do mundo e em várias situações tanto no âmbito familiar como
no escolar. Pois a cada dia essa prática vem se reproduzindo através dos tempos
de maneira quase intuitiva, contudo, alguns estudos já demonstraram o
importante papel que os contos de fadas desempenham nos processos de aquisição
e desenvolvimento da linguagem humana.
Sobre a aquisição da
leitura e da escrita: algumas reflexões e proposições
Muito se tem pesquisado
e discutido em diversas áreas do conhecimento sobre o que acontece durante a
aquisição e o desenvolvimento da linguagem no ser humano. Os processos
envolvidos nesse percurso têm sido observados de diversos pontos de vista, e as
discussões a respeito se multiplicam.
As histórias contadas
são utilizados geralmente pelos adultos interlocutores como forma de
entretenimento ou distração; já que, pelo senso comum, freqüentemente a criança
sempre demonstra um interesse especial por elas, seja qual for a classe social
à qual pertença. Em se tratando da aquisição da leitura e da escrita, os contos
podem oferecer muito mais do que o universo ficcional que demonstram e a
importância cultural que carregam como transmissoras de valores sociais.
Por isso, existe uma
acentuada diferença entre as histórias contadas e as histórias lidas para uma
criança, já que, a linguagem se reveste de qualidade estética quando escrita, e
essa diferença já pode ser percebida por ela. Pois ao ouvir histórias, a
criança vai construindo seu conhecimento de linguagem escrita, que não se
limita ao conhecimento das marcas gráficas a produzir ou a interpretar, mas
envolve gênero, estrutura textual, funções, formas e recursos lingüísticos.
Logo, ouvindo os contos, a criança aprende pela experiência a satisfação que
uma história provoca; aprende a estrutura da história, passando a ter
consideração pela unidade e seqüência do texto.
Mesmo assim, para que
os contos de fadas consigam prender a atenção das crianças o é necessário
entretê-las e despertar nelas a curiosidade com isso, enriquecerá sua vida e
estimulará sua imaginação ajudando no seu desenvolvimento intelectual
proporcionando assim, mais clareza em seu mundo afetivo, auxiliando-a a
reconhecer mesmo de forma inconsciente, alguns de seus problemas e
oferecendo-lhe perspectivas de soluções, mesmo provisórias.
Muito mais do que um
adulto, a criança vive ás experiências do tempo presente, e possui apenas vagas
noções do futuro, portanto, suas ansiedades frente a eventuais problemas e
angústias do cotidiano são supostamente profundas e é justamente no
enriquecimento de seus recursos internos para enfrentá-las que os contos de
fadas também os beneficiam, explica Bettelheim:
“É exatamente a
mensagem que as histórias infantis transmitem à criança de forma múltipla: que
uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, é parte intrínseca da
existência humana, mas que, se a pessoa não se intimida, mas se defronta de
modo firme com as opressões inesperadas e muitas vezes injustas, fogo, ela
dominará todos os obstáculos, e ao fim emergirá vitoriosa”.
(BETTELHEIM, Bruno. A
Psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2004.).
Já Vygotsky, entre
outros estudiosos do assunto, buscando compreender a origem e o desenvolvimento
dos processos psicológicos do indivíduo (abordagem genética), postula um
enfoque sociointeracionista para a questão, no qual um organismo não se
desenvolve plenamente sem o suporte de outros de sua espécie, o que afirma que
todo conhecimento se constrói socialmente. Durante todo o percurso do
desenvolvimento das funções psicológicas, culturalmente organizadas, é
justamente esse aspecto cultural, social, de interação com o outro que a
contagem dos contos oferece, que desperta processos internos desse
desenvolvimento.
É o contato ativo do
indivíduo com o meio, intermediado sempre pelos que o cercam, que faz com que o
conhecimento se construa. Especialmente em se tratando da linguagem, o
indivíduo tem papel constitutivo e construtivo nesse processo (ele não é
passivo: percebe, assimila, formula hipóteses, experimenta-as, e em seguida
reelabora-as, interagindo com o meio).O que lhe proporciona, portanto, modos de
perceber e organizar o real é justamente o grupo social (a interação que ela
faz com esse grupo). É este que determina um sistema simbólico-lingüístico
permeador desses modos de representação da realidade inseri da nos contos.
Ainda segundo o autor, o pensamento e a linguagem estão intimamente
relacionados na medida em que o pensamento surge pelas palavras.
A significação é a
força motriz para essa relação: não é o conteúdo de uma palavra que se
modifica, mas a maneira pela qual a realidade é generalizada e refletida nela.
E são exatamente essas construções de significados que a criança vai
desenvolvendo internamente (como uma linguagem interna, seu modelo de produção
do pensamento) que partem da fala socializada, da fala dos outros que a cercam.
A criança passa, então,
a conviver com esses dois tipos de correspondência entre a grafia e o som,
adentrando assim no nível silábico-alfabético. E começa também a experimentar
um conflito, já que é capaz agora de perceber que existe uma representação
gráfica correspondente a cada som (percebe a relação entre grafema e fonema).
Ela vai reformulando sua hipótese anterior, silábica, que lhe parece
insuficiente, e vai alternando sua produção entre essa e a alfabética
propriamente dita.
Com suas tentativas e
reformulações das histórias contadas e lidas (no caso os contos), ela evolui
para o nível alfabético, que se estabelece mais firmemente sobre sua percepção
da relação entre a grafia e o som. Ela já consegue aceitar que a sílaba é
composta de letras que devem ser representadas distintamente, e se toma capaz
de perceber outras características da comunicação gráfica, tais como as
diferenças entre letras, sílabas, palavras e frases, ainda que ela falhe nessas
representações.
Considerando que o aprendizado só
ocorre quando são realizados estudos, registro e pesquisa. (Lima, 2000), é por
isto que trabalhar e valorizar a metodologia de projetos. Segundo o Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil, a elaboração de projetos é por excelência, a forma de organização didática
mais adequada para se trabalhar com este lixo, devido à natureza e a
diversidade dos conteúdos, que ele oferece e também ao seu caráter
interdisciplinar “(R.C.N, v. 3, pg. 201, 1998)”.
Então em meio as tantas histórias, leituras de
livros feitas com dramatizações um aluno perguntou – “ O lobo vem comer a gente?, explicamos que não,
e que aquilo só acontecia dentro dos livros, e isto tudo teve uma evolução
significativa para a linguagem oral.
Realizamos atividades de recorte,
dançamos, cantamos, pintamos, lemos, foram tiradas fotos e realizadas anotações
importantes.
Muitas informações contribuíram
para a ampliação do vocabulário dos alunos.
O interesse e o desejo caminho
juntos no processo de aprendizagem e são fundamentais para a construção do
conhecimento significativo.
Com uma metodologia diversificada, foi possível a realização de
atividades mentais e físicas que é fundamental para a construção do próprio
conhecimento da criança, ou seja, do aluno, pois é dessa maneira que se
alicerça a aprendizagem através da ação de dentro para fora.
Para que haja aprendizagem significativa
deve haver participação efetiva
da criança.
Pensando, analisando e estudando,
tiveram a oportunidade de observar, explorar, manipular, experimentar,
construir, comparar e reconhecer
propriedades nos objetos e estabelecer relações. A criança só aprende com orientação e estímulo
do professor, porque todos podem aprender e se tornarem capazes de buscarem
novas informações de que necessitam.
Considerações Finais:
Vê-se que não há a
necessidade de esperar pela alfabetização formal para que as crianças se
envolvam com a leitura das histórias infantis. Tem-se que associá-la à
alfabetização, para se obter melhores resultados na formação escolar e na
preparação da criança para a vida real. Só assim, a criança conhecerá a
realidade mundana sem toda obscuridade nela presente.
Entretanto, para que elas se tomem
efetivamente leitoras e autoras dos próprios textos fazem-se necessário que, em
algum momento do processo de alfabetização tenham não somente adquiridos
conhecimentos específicos do código alfabético, mas também (e, sobretudo)
imaginação bem fluente, capaz de desenvolver textos criativos; isso acontecerá
se essas crianças tiverem acesso aos contos de fadas, responsáveis por tais
benefícios.
Afinal, não se ensina ou não se aprende
simplesmente a ler e a escrever. Aprende-se uma forma de linguagem, uma forma
de interação, uma atividade, um trabalho simbólico, que só é conseguido através
da utilização dos contos de fadas a partir da alfabetização.
Sendo assim, o enfoque deste artigo foi
mostrar a importância da utilização dos contos e seus benefícios às crianças,
já que, são relacionados ao mundo imaginário pintando a realidade do mundo,
atualizando ou reinterpretando, em suas variantes questões universais, como o
conflito do poder e a formação dos valores, misturando realidade e fantasia, no
clima do "Era uma vez", permitindo "um final feliz".
Referências Bibliográficas
- ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil, Gostosuras e Bobices. São Paulo: Scipione,1994.
- AGUIAR, Vera Teixeira. Era uma vez... na escola: formando educadores para formar leitores. Belo Horizonte: Formato, 2001.
- BETIELHEIM, Bruno, A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.
- LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira. História e
Histórias.
São Paulo: Ática, 2004.
- NOSELLA, Maria de Lourdes Chagas Deiró. As belas Mentiras: A Ideologia Subjacente dos textos didáticos. São Paulo, Editora Moraes, 1978.
- NOV AES, Nelly Coelho. O Conto de Fadas; Símbolos, mitos e Arquétipos. São Paulo: DCL, 2003.
- VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. Trad. Jéferson Luiz Camargo. São Paulo, Martins Fontes, 1987.
- ZILBERMAN, Regina. A literatura Infantil Brasileira. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
Postado por: E.M.S. Neves
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