O jogo e a Criança
Eclair de Oliveira Silva Santos, Maria
Aparecida Honorato de Oliveira Nascimento, Márcia Maria da Silva Ferreira
Resumo:
Brumer percebeu
a relação entre o jogo e a aprendizagem ao estudar as relações das situações de
jogo e o domínio da linguagem em crianças pequenas. Na obra "Comment lês
enfants aprennent à parler (1987)", Brumer diz que o que importa é a
realidade pragmática da linguagem, permitindo realizar uma ação partilhada com
outra pessoa (PERONDI, Dario. p.145.2001). Os jogos
constituem situações de aprendizagem, e a característica dos formatos de jogo
são os acontecimentos nos quais as regras se estabelecem pela linguagem. Os
jogos podem ser do tipo que dependem de trocas verbais, oportunizando a
exploração do fazer através das palavras.
Palavras-chave:
Jogo – criança – leitura.
Desenvolvimento
Segundo Pinto (2005, p. 30) é exposto; "dada à
evolução filogenética, os indivíduos que nascem dentro de uma determinada
cultura, desenvolvem-se imersos numa realidade que já está constituída, e que é
o resultado atual de uma história de transformações".
Defontaine
(Oliveira, 1998) diz ser necessário que a criança tenha condições de questionar
seu meio, que experencie as situações de seu corpo em relação ao espaço e que
realize um trabalho mental que lhe permitirá organizar-se, organizar e
representar seu espaço.
De
acordo com Kishimoto (1995), a influência das ideias de Rosseau, na França,
permitiu que se criassem inúmeros brinquedos educativos utilizando princípios
da educação sensorial com vistas a estudar crianças deficientes mentais e cujos
conhecimentos foram, depois, utilizados para ensino das crianças ditas normais.
Em
seguida, sob a influência do pensamento e da filosofia de suas épocas, cada um
à sua maneira, os pedagogos Friedrich Frobel (1782-1852), Maria Montessori
(1870- 1909) e Ovide Decroly (1871-1932), elaboraram pesquisas a respeito das
crianças pequenas, legando à educação grande contribuição sobre seu
desenvolvimento. Estes foram os primeiros pedagogos da educação infantil a
romper contra educação verbal e tradicionalista de sua época. Propuseram uma
educação sensorial baseada na utilização de jogos e materiais didáticos, que
deveria traduzir por si a crença em uma educação natural dos instintos
infantis.
O
processo de desenvolvimento humano é marcado por apropriação de saberes
produzidos na história cultural da humanidade, a escola encaixa-se perfeitamente
como sendo o local indicado para trabalhar a mediação e a organização de
relações para dar capacitação aos indivíduos para serem capazes de caminharem
além dos níveis já garantidos no campo de suas competências individuais.
O
professor pode, então, ser o outro que se antecipa no processo de apropriação
de conhecimento e de competências internas do sujeito, e traciona o
desenvolvimento, para o que deve criar espaços sistemáticos. Tem a oportunidade
de ser um organizador, com intencionalidade, deste percurso dos sujeitos, ao
qual pode se antepor (ROCHA. 2005. p. 45).
O
jogo não é somente um divertimento ou uma recreação. Não é necessário provar
que o jogo os fogos em grupo são uma atividade natural e que satisfazem à
atividade do indivíduo; o que é necessário é justificar seu uso dentro da sala
de aula. As crianças muitas vezes aprendem mais por meio dos jogos em grupo do
que nas lições e exercícios preparados somente com livros e cadernos.
Segundo
Kamil e Devries (citados por Friedmann, 1996, p. 35), num jogo as crianças são
mais ativas mentalmente do que num exercício. Os jogos são, fora da sala de
aula, uma atividade satisfatória e merece ser levados para dentro da sala de
aula para tornar a educação mais compatível com o desenvolvimento das crianças.
Reconhecemos
nas idéias e estudos realizados por Vygotsky, que é interessante observar que o
ensino sistemático não é o único fator responsável por alargar os horizontes da
zona de desenvolvimento proximal.
Vygotsky
considera o brinquedo uma importante fonte de promoção de desenvolvimento.
Afirma que, apesar do brinquedo não ser o aspecto predominante da infância, ele
exerce uma enorme influência no desenvolvimento infantil (Rego, 1995, p. 80).
Compreendendo
bem a natureza dos jogos tradicionais é possível revivê-los, transformando-os e
adaptando-os às condições e realidades contemporâneas. Pode-se fazer uso desses
jogos como recurso metodológico destinado a diagnosticar necessidades e
interesses dos diferentes grupos de crianças que temos em nosso convívio
escolar, serve ainda para contribuir no desenvolvimento da inteligência e de
aprendizagens específicas.
É
na brincadeira que a criança se comporta além do comportamento habitual de sua
idade, além de seu comportamento diário. A criança vivência uma experiência no
brinquedo como se ela fosse maior do que a realidade, o brinquedo fornece
estrutura básica para mudanças das necessidades e da consciência da criança.
(VYGOTSKY, 1992, p.117).
O
lúdico promove o desenvolvimento global da criança; para tanto é necessário
considerar os conhecimentos que ela já possuí proporcionar a criança vivenciar
seu mundo, explorando, respeitando e reconstruindo. Nesse sentido a Educação
Infantil deve trabalhar a criança, tomando como ponto de partida que esta é um
ser com características individuais e que precisa de estímulos para crescer
criativa, inventiva e, acima de tudo crítica.
Para
trabalhar com respeito e fazer um trabalho consciente em sala de aula com
jogos, é indicado que o educador possa reconhecer a realidade lúdica do seu
grupo de crianças, seus interesses e necessidades, comportamento, conflitos e
dificuldades, e que, juntamente, construa um meio de estimular o
desenvolvimento cognitivo, afetivo, social moral, lingüístico e físico-motor,
assim, propiciar a aprendizagem específica.
O
educador deve ter seus objetivos bem claros. Assim, se pretender ter um
diagnóstico do comportamento do grupo em geral e dos alunos de forma
individual, ou saber qual o estágio de desenvolvimento em que se encontram
essas crianças, ou ainda, conhecer os valores, idéias, interesses e
necessidades ou, os conflitos e problemas, é possível, a partir do jogo, ter
esse amplo panorama de informações (FRIEDMANN, 1996, p. 70).
Com
esse artigo busca-se mostrar que em
determinadas condições, geralmente as que possibilitam o "brincar", é
possível criar um campo de experiências onde a cultura adquira real significado
para o aluno. É importante superar a idéia de que educação se reduz ao ensinar
e aprender.
O
Jogo na Educação Infantil
O
jogo sempre foi uma característica do ser humano. Dessa forma, deve fazer parte
também de suas atividades educativas. Sua importância e utilização na educação
de crianças dá-se historicamente desde a Grécia antiga com o pensador Platão e
a partir daí com os Egípcios, Romanos, Maias e mais tarde com os humanistas
(século XVI), teóricos da educação e estudiosos da pedagogia ativa como Dewey,
Montessori, Rosseau, Froebel, Piaget, Frenet e Paulo Freire.
Kishimoto
(1995), ao influenciar a história da pedagogia pré-escolar brasileira, a partir
de uma entrada através do movimento da Escola Nova, os pensamentos Froebeliano,
Montessoriano e Decrolyano têm-se transformado, principalmente após os anos 70,
com a priorização dos programas de educação compensatória, em meros
instrumentos didáticos. A autora observou mais recentemente uma tendência das
pré-escolas brasileiras em trabalhar com as crianças através de materiais
didáticos, brinquedos pedagógicos e métodos lúdicos de ensino e alfabetização
como fins em si mesmos, descontextualizando seu uso dos processos cognitivos e
históricos experienciados pelas crianças.
As
escolas tem realizadas atividade lúdicas com as crianças restringindo-as a
exercícios repetidos de discriminação viso motora e auditiva, através do uso de
brinquedos, desenhos coloridos e músicas ritmadas. Ao fazer isso, ao mesmo
tempo em que bloqueia a organização independente das crianças para a
brincadeira, essas práticas pré-escolares, através do trabalho lúdico
didatizado, enfatizam os alunos, como se sua ação simbólica servisse apenas
para exercitar e facilitar para o professor, a transmissão de determinada visão
do mundo, definida a priori pela escola.
É
fundamental que se assegure à criança o tempo e os espaço para que o caráter
lúdico do lazer seja vivenciado com intensidade capaz de formar a base sólida
para a criatividade e a participação cultural e, sobretudo para o exercício do
prazer de viver, e viver, como diz a canção... como se fora brincadeira de roda
[...] (MARCELLINO,1996, p.38).
Na
ação lúdica não é a racionalidade lógica que impõe a ação, mas sim a motivação
que está expressa na alegria e no prazer, na diversão como o ponto comum da
atividade lúdica. Além disso, toda atividade lúdica pode ser exercida tanto por
crianças como por adultos, o adulto que brinca não volta a ser criança, mas
resgata um comportamento humano (NEGRINE, 1998).
Cunha
(1994) ressalta que a brincadeira oferece uma "situação de aprendizagem
delicada", isto é, o educador precisa ser capaz de respeitar e nutrir o
interesse da criança, dando-lhe possibilidades para que evolua em seu processo,
ou do contrário perde-se a riqueza que o lúdico representa.
Aredito
ser de responsabilidade do educador na educação infantil ajudar a criança a
ampliar de fato as suas possibilidades de ação. Proporcionar à criança
brincadeiras que possam contribuir para seu desenvolvimento psicosocial e
consequentemente para sua educação, mesmo porque a Proposta Pedagógica ampara
tais procedimentos.
Há
de se planejar brincadeiras diversificadas e lhes facilitar a experimentação. É
necessário estimular a participação ativa e a imaginação criadora, pois
conforme Vygotsky (1991), quando a criança brinca, por exemplo, de "faz de
conta", atinge estágios de desenvolvimento.
Kishimoto
afirma que "Se a atividade lúdica não for de livre escolha e seu
desenvolvimento não depender da própria criança, não se tem brincadeira, mas
trabalho" (1994, p.35).
O
lúdico enquanto recurso pedagógico deve ser encarado de forma séria e usado de
maneira correta, pois como afirma Almeida (1994), o sentido real, verdadeiro,
funcional da educação lúdica estará garantido se o educador estiver preparado
para realizá-lo.
Segundo
Garcia (1995), o professor deve dar sentido às atividades de sala de aula,
sabendo que cada atividade traz a possibilidade de novas aprendizagens e
provoca novos desenvolvimentos.
Mas,
no caso específico de jogos e brincadeiras, quando direcionados para a
alfabetização e o ensino da língua materna, isso é perfeitamente possível. Por
meio deles, integram-se o prazer e o aprender, o sabor e o saber.
Tudo
isso deve ser utilizado com um propósito único, o de tornar a alfabetização um
momento espontâneo na vivência dos alunos.
Para
concretizar esses grandes objetivos, pensando na participação dinâmica da
criança nesse processo, devem ser levados em conta seus interesses e
necessidades, e o educador deve ter bem claros esses objetivos. Assim, ao
pensar atividades significativas que respondam aos objetivos, é importante
articulá-la de forma integrada, conforme a realidade sócio-cultural das
crianças, seu estágio de desenvolvimento e o processo de construção de
conhecimentos, valorizando o acesso aos conhecimentos do mundo físico de
conhecimentos, valorizando o acesso aos conhecimentos do mundo físico e social
(FRIEDMANN, 1996, p. 55).
Brincar
é coisa séria! É mais do que uma atitude sem conseqüência para a criança.
Brincando, ela não apenas se diverte, mas recria e interpreta o mundo em que
vive, relacionando-se com este mundo. Brincando ela aprende
Os
jogos assumem diversos papeis em uma instituição pedagógica de Educação
Infantil. A brincadeira e o jogo assumem papeis bem parecidos eles ocupam um
papel cultural e assumem papeis de acordo com cada grupo social.
A
ação de brincar segundo Almeida (1994), é algo natural na criança e por não ser
uma atividade sistematizada e estruturada acaba sendo a própria expressão de
vida da criança.
Rizzi
e Haydt convergem para a mesma perspectiva quando afirmam:
O
brincar corresponde a um impulso da criança, e este sentido, satisfaz uma
necessidade interior, pois o ser humano apresenta uma tendência lúdica.
(1987,p.14).
Tudo
que a criança aprende do exterior ainda é algo que aprende de si mesma.
Qualquer ensino recebido inscreve-se na perspectiva de certas possibilidades
que desmascara [...] a menor lição, o mais simples exercício constituem como
que um questionamento à personalidade no seu conjunto. (GUSDORF, 1987, p. 81).
Para
VYGOTSKY (1982,1988) existem dois elementos fundamentais e indissociáveis nas
brincadeiras: a situação imaginária e as regras. De um lado encontra-se o jogo
de papéis com regras implícitas e, em outro, o jogo de regras com regras
explícitas.
A
situação de brinquedo potencializa a Zona de Desenvolvimento Proximal na medida
em que envolve a criança "graus maiores de consciência das regras de
conduta, e nos comportamentos previsíveis ou verossímeis dentro do cenário
construído (BAQUERO, 1998, p. 102).
Neste
artigo , o brinquedo será entendido como o objeto utilizado na brincadeira, a
brincadeira como a estruturação de uma conduta infantil; e o jogo e a
brincadeira com regras para identificar o objeto, as regras da realidade e as
regras do jogo, portanto construir o mundo concreto e real na formação de um
ser completo e social.
Para
Vygotsky (2001, p. 145), a instrução (referindo-se ao ensino) deve ser
orientada para os processos de desenvolvimento que se encontram em
amadurecimento e consolidação na zona de desenvolvimento proximal. Ele alertava
que a ZDP (zona de desenvolvimento proximal) deveria ser considerada levando em
conta tanto o nível de desenvolvimento da criança, como a natureza da instrução
recebida pela mesma.
Ganha
importância, assim, o aspecto das pré-condições de desenvolvimento da criança e
as possibilidades de aprendizagem, condicionadas a uma intervenção instrucional
que funcione como mediadora no processo ensino/aprendizagem. Operar sobre a
zona de desenvolvimento proximal possibilita trabalhar sobre as funções
"em desenvolvimento", ainda não plenamente consolidadas, mas sem
necessidade de esperar sua configuração final para começar uma aprendizagem.
Existem
dois elementos fundamentais e indissociáveis nas brincadeiras: a situação
imaginária e as regras. De um lado encontra-se o jogo de papéis com regras
implícitas e, em outro, o jogo de regras com regras explicitas. Destaca que as
regras não se restringem aos brinquedos classificados como de regras. Para ele,
as regras aparecem como elemento sempre presente em toda a situação de
brinquedo simbólico (VYGOTSKY 1982, 1988, apud PERONDI, 2001, p.145).
Com
a evolução do desenvolvimento, as regras também evoluem e ficam mais rígidas,
necessitando de mais atenção da memória e regulação da atividade, desta
maneira, com o passar do tempo o jogo se torna mais competitivo.
Para
Vygotsky (1999) as regras aparecem em todas as etapas, também na fase dos jogos
dos papéis, que também possuem regras implícitas que permitem às crianças
auto-regular-se. E fica claro que não existe brinquedo sem regras, a situação
imaginária contém sempre regras de comportamento. Quando as regras aparecem em
uma etapa posterior, elas apenas aumentam seu grau de dificuldade, dependendo
da motivação e do raciocínio. Ao alcançar estágios mais avançados de
desenvolvimento mental, a criança assume o jogo com outra significação.
Brincando
a criança aprende decidir, ter opinião própria, descobre seu papel e seus
limites. Através do brinquedo ela descobre o prazer e satisfação de criar.
Expressa sua necessidade de explorar o mundo, a partir do domínio das
habilidades de comunicação, nas mais variadas formas, facilitando a
auto-expressão. Além de colaborar no desenvolvimento intelectual por meio de
exercício de atenção, e também pelo uso progressivo de processos mentais mais
complexos como comparação e discriminação, e pelo estimulo à imaginação.
A
criança em idade pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os
desejos não realizáveis podem ser realizados e esse mundo é o que chamamos de
brinquedo! (VYGOTSKY 1992, p.92).
As
brincadeiras através de jogos ou não, propiciam ainda a socialização, pelo
exercício de vários papeis sociais, com as suas normas de conduta e pela
formação de lealdades sociais. Ajudam a descoberta do EU e do OUTRO (social e
cultural) contribuindo para a difícil construção da identidade cultural.
Jogo
supõe relação social, interação. Por isso, a participação em jogos e
brincadeiras contribui para a formação de atitudes sociais, respeito mútuo,
solidariedade, iniciativa pessoal e grupal. É jogando e brincando que a criança
aprende o valor do grupo como força integradora e o sentido de competição e da
colaboração consciente e espontânea. (RIZZI e HAYDT, 1987, p.15).
Compreender,
conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo
é o grande desafio da educação infantil e de seus profissionais. Embora os
conhecimentos derivados de áreas afins possam ser de grande valia, para revelar
o universo infantil apontando algumas características comuns das crianças, elas
permanecem únicas em suas individualidades e diferenças.
As
Fases do Jogo
O
jogo é necessário ao processo de desenvolvimento, tem uma função vital para o
indivíduo principalmente como forma de assimilação da realidade, além de ser
culturalmente útil para a sociedade como expressão de ideais comunitários.
Segundo
Faria (1995), na concepção piagetiana, os jogos consistem numa simples
assimilação funcional, num exercício das ações individuais já aprendidas
gerando, ainda, um sentimento de prazer pela ação lúdica em si e pelo domínio
sobre as ações. Portanto, os jogos têm dupla função: consolidar os esquemas já
formados e dar prazer ou equilíbrio emocional à criança.
Segundo
Vygotsky (1989), o lúdico influencia de fato o desenvolvimento da criança. É
através do jogo que a criança aprende a agir, sua curiosidade é estimulada,
adquire iniciativa e autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem,
do pensamento e da concentração.
Para
Piaget (1994, p. 32), o jogo apresenta uma concepção. O autor afirma que se o
ato da inteligência desemboca em equilíbrio entre assimilação e a acomodação,
sendo que a imitação prolonga esta última por si mesma, é possível afirmar que
o jogo é essencialmente assimilação, que prima sobre a acomodação.
Aprendizagem
para Piaget está representada por um duplo processo: o de assimilação e o de
acomodação. A inteligência sensório-motora aparece como desenvolvimento de uma
atividade assimiladora que tende a incorporar e acomodar os objetos exteriores
e seus esquemas, na medida em que se dá um equilíbrio estável entre a
assimilação e a acomodação (NEGRINE. 1994. p. 32).
Segundo
o autor, o jogo é praticamente uma imitação. A criança, desde seu nascimento,
aprende a imitar e assim, aprende as regras e adquire condições de assimilar as
necessidades da realidade. Com o jogo simbólico ela assimila e imita o real.
Ao
estudar a imitação, Piaget (1994, p. 34) desenvolve seus estudos e reconhece
seis estágios progressivos, onde cada um se destaca com características
individuais e peculiares:
1º
estágio: Preparação
reflexa – Nesse estágio observa-se que a reprodução de um modelo estará
relacionada com os atos reflexos e, portanto, não é propriamente imitação.
Nesse período existe a ausência da imitação.
2º
estágio: Imitação
esporádica – Nesse estágio
os esquemas reflexos começam a assimilar certos elementos exteriores e a
amplia-se em função de uma experiência adquirida sob a forma de reações
circulares diferenciadas.
3º
estágio: Imitação sistemática – Nesse estágio nota-se o surgimento de novas
reações circulares que exercem uma ação sobre as mesmas coisas. Elas surgem com
o desenvolvimento da coordenação da visão e da preensão e isso se dá por volta
dos quatro meses e meio mais ou menos. Observa-se então, que nessa fase a
criança é capaz de imitar todos os movimentos que executa espontaneamente por
si mesma.
4º
estágio: Imitação dos
movimentos já executados pelo sujeito, mas de maneira invisível para ele –
São descritos dois momentos distintos nessa fase da imitação: a imitação de
movimentos já executados pelo sujeito, sendo que ele não pode ver - isso ocorre
aos oito ou nove meses praticamente -; e o início da imitação de novos modelos
sonoros e visuais. Depois que a criança adquire domínio dos movimentos ela
passa a copiar os sons e os gestos novos. Esse desenvolvimento tem relação
direta com o processo de inteligência.
5º
estágio: imitação
sistemática de modelos novos, inclusive os que correspondem aos movimentos
invisíveis do próprio corpo – A imitação dos modelos novos não ocorre de
maneira sistemática e precisa, mas no curso do quinto estágio e isso
paralelamente com o progresso da mesma inteligência, responsável direta do
processo de imitação.
6º
estágio: começo da
imitação representativa e evolução posterior da imitação – No desenvolver desse estágio apresenta-se a
construção da inteligência sensório-motora. Nota-se aqui que a coordenação dos
esquemas se torna independente suficientemente da percepção imediata e da
experiência empírica como para dar lugar a combinações mentais. São descritos
dois momentos distintos: imitação dilatada, que se refere à primeira reprodução
de um modelo, onde não se faz necessária em sua presença, mas em sua ausência e
depois de tempo mais ou menos lago; e evolução posterior à imitação, momento
que se caracteriza pela análise da imitação depois que aparece a linguagem,
período compreendido entre dois e sete anos aproximadamente.
Piaget,
neste estágio, faz referência a dois tipos de observação de ordem geral: uma
que se refere às coisas móveis; e outra que é a técnica da imitação. Com
relação às coisas móveis, sustenta que a imitação não se constitui jamais em
uma conduta que se satisfaça a si mesma: é o resultado de uma acomodação
especial ao modelo proposto (...). A imitação é sempre uma prolongação da
inteligência, mas no sentido de uma diferenciação em função de modelos novos
(NEGRINE, 1994, p. 34).
Depois
de fazer estudos e descrever a evolução da imitação, Piaget (1994, p. 34) faz
uma análise da evolução do jogo nesses mesmos estágios.
No
primeiro estágio o autor ressalta que é difícil considerar como jogo os
exercícios reflexos característicos dessa primeira fase; isso porque, são
movimentos que prolongam o prazer da sucção. Já no segundo, observa-se o jogo
como parte de condutas adaptativas, esboçando-se como ligeira diferenciação da
assimilação adaptativa.
No
terceiro estágio, nota-se que as coisas se transformam em jogo quando um novo
fenômeno é compreendido pela criança. Nesse período, a diferenciação entre jogo
e a assimilação intelectual é um pouco mais acentuada.
No
quarto estágio, surgem duas novidades relacionadas ao jogo: em primeiro lugar,
observa-se a aplicação dos esquemas adquiridos a situações novas e em segundo
lugar nota-se a mobilidade dos esquemas, que permite a formação de verdadeiras
combinações lúdicas, e o sujeito passa de um esquema a outro sem ensaios
sucessivos e de maneira simples sem esforço de adaptação.
No
quinto estágio, tem-se a impressão de que as atividades lúdicas das crianças
obedecem a um ritual, sendo que essa ritualização inicia-se no estágio
anterior. Já no sexto e último estágio, a característica principal é a aparição
do símbolo lúdico, distinguindo-se do ritual sob forma de esquemas simbólicos.
Isso se deve a um processo decisivo no sentido da representação.
No
decorrer dos seus estudos, Piaget (1994) descreve vários pontos importantes
relacionados ao jogo. O autor fala sobre signo e símbolo, dizendo que o signo é
um significante arbitrário ou convencional, enquanto o símbolo é um
significante motivado.
Nem
a palavra, nem o contato com o outro acompanham necessariamente a formação de
um simbolismo, já que o efeito mais característico do sistema de signos verbais
sobre o desenvolvimento da inteligência é tornar possível a transformação dos
esquemas de conceitos.
Sendo
assim, observamos que a imitação e o jogo se elaboram no decorrer dos mesmos
estágios e passam por todas as fases de construção, contando também com a fase
da representação.
Segundo
Piaget (1994, p. 37), todo esquema participa sempre ao mesmo tempo da
assimilação e da acomodação, posto que cada um desses dois processos seja
necessariamente indissociável do outro.
Quanto
à classificação dos jogos, Piaget opina que o jogo procede por relaxação do
esforço adaptativo, assim como por meio do exercício das atividades, somente
pelo prazer de dominá-las e de extrair delas um sentimento de virtuosidade ou
potência. (...) (NEGRINE, 1994. p, 37).
Os
estudos de Piaget (1994) fazem ainda referência aos processos de desenvolvimento
interno e externo da criança, o que dá margem para dúvidas a respeito das
relações entre a imitação e a imagem mental.
Analisando
o jogo e enfocando sua estrutura, Piaget (1994, p. 40) classifica os jogos em:
de exercício sensório-motor, simbólicos, e de regras, sem esquecer suas
variedades. Analisando seus estudos, observamos que ele propõe variações de
conteúdos segundo o meio físico e social em que a criança está inserida.
Ainda
segundo o autor os estágios e períodos do desenvolvimento caracterizam as
diferentes maneiras do indivíduo interagir com a realidade, para poder
organizar seus conhecimentos.
Para
estudar melhor esse desenvolvimento, tomamos como base de estudo as fases de
desenvolvimento do jogo nas crianças,
a)
Jogos Sensório-Motores - também denominados jogos de exercício, aparecem
no primeiro período do desenvolvimento da criança, isto é, no período da
atividade sensório-motora. Não chegam a constituir sistemas lúdicos
independentes e cognitivos, como é o caso dos jogos simbólicos e de regras. Sua
motivação é pelo simples prazer funcional, ou pelo prazer produzido pela tomada
de consciência de suas novas capacidades. Consistem no movimento pelo
movimento, em manipulações baseadas no prazer de manipular e cuja
característica principal é sua instabilidade.
b)
Jogos Simbólicos - atendem à estrutura dos símbolos concebidos como
instrumentos de assimilação lúdica. O esquema simbólico por si mesmo é
suficiente para assegurar a superioridade da representação sobre uma ação pura;
nesta fase, segundo PIAGET (1994, p. 41), o jogo permite assimilar o mundo
exterior ao "eu", como meio infinitamente mais poderoso que o simples
exercício. Essa forma do jogo simbólico surge antes da linguagem e serve para
que a criança utilize livremente seus poderes individuais, reproduzindo suas
ações pelo prazer de criar o espetáculo para si e para os demais.
c)
Jogos de Regras - não seguem o mesmo itinerário dos anteriores, pois
começam a aparecer na metade do segundo estágio, isto é, dos quatro aos sete
anos, e principalmente no terceiro período, que está compreendido entre os sete
e onze anos. (PIAGET ,1994).
Nessa
fase surge apenas o pensamento, o símbolo substitui o simples exercício, a
regra substituirá o símbolo e enquadrará o exercício no momento em que se constituem,
de forma incipiente, certas relações sociais.
Para
Piaget, a criança por si mesma não se impõe regras, mas o faz por analogia com
as que recebeu. Jamais se comprovou regras espontâneas em uma criança isolada.
Faz referência a um exemplo em que uma criança, quando tem bolinhas de gude,
constrói com elas símbolos (ovos de um ninho) ou joga arremessando-as etc.
(simples exercícios), adquirindo costumes (NEGRINE, 1994. p. 44).
Na
regra, além da regularidade, existe uma idéia de obrigação que supõe a existência
de dois indivíduos, pelo menos. Nesse sentido, NEGRINE (1994, p. 45) afirma que
para Piaget, somente os jogos de regras escapam a esta lei de involução,
desenvolvendo-se com a idade e sendo os únicos que subsistem na idade adulta.
Segundo o autor, Piaget vê no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da
criança, pois a acompanha, sendo ao mesmo tempo uma atividade conseqüente de
seu próprio crescimento.
Considerações
Finais
O
jogo não é um acaso à parte das demais atividades humanas. Como todas, é vida
manifestando-se e, como elas, manifestando-se de maneira típica, apenas quando
encontra ambiente fértil para isso. E tudo indica, é o mundo do espírito
humano, da subjetividade que acolhe o lúdico e o faz crescer. Quando o homem
volta-se para si, livre das amarras da objetividade, pode jogar. (FREIRE,
2005b: 65)
Essa
complexa relação entre o jogo, cultura e o indivíduo, que se caracteriza o
ambiente da atividade lúdica, sem que se possam especificar quais desses
elementos atuam como causa ou conseqüência em suas constantes formações. Diante
disso, espera-se que a cultura pode ser caracterizada como responsável pela
formação de um jogo, ou que esse último possa ser responsável pela formação de
um indivíduo.
Referências
Bibliográficas
FRIEDMANN,
Adriana. Brincar: crescer e aprender. O resgate do jogo infantil. Ed.
Moderna São Paulo, 1996.
NEGRINE,
Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. V. 1. Simbolismo e jogo.
Porto alegre: PRODIL, 1994.
FREIRE,
P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1997.
FREIRE,
P. Professora sim, Tia não: Cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho
d`Água, 1997.
VYGOTSKY, L. S. Imaginación y creación en la edad infantil. La Habana: Editorial Pueblo y Educación, 1999.
VYGOTSKY,
L. S. "Concrete Human Psycology", Soviet Psychology, v.
XXVII, n. 2., 1986,pp. 53-77.(Tradução para o português de Enid Abreu
Dobránszky, 1989).
Postado por: E.M.S.Neves
0 comentários:
Postar um comentário